A Culpa Também é Nossa

Portugal ardeu. Portugal ardeu em condições meteorológicas tão extremas que nem os que arduamente lutam contra o fogo conseguem grande coisa. A situação é tal forma dantesca que não é humano combater estes monstros. Ainda assim há quem tente, arrisque a vida, se esforce para trazer conforto aos que sofrem. Ainda assim há quem o consiga. 

Há demasiados anos que ouço dizer que é preciso investir em prevenção. Certo. Quem não
concorda? Há demasiado anos ouvimos ser preciso investir numa estrutura profissional de combate – e de socorro pré-hospitalar em todo o país, já agora – que dê uma resposta rápida e profissional, com condições que as exigências actuais evidenciam, às solicitações cada vez mais frequentes. 

Vejo pessoas a pedir bombeiros, bombeiros que não existem para tanta solicitação. Bombeiros que fazem dessa actividade um hobby e que fazem verdadeiros milagres. 

Quem tem os pés assentes na terra sabe que com as alterações climáticas e com a floresta que temos não será possível não ter incêndios problemáticos. Culpa-se o governo, o presidente da Câmara e da Junta mas raramente as nossas próprias culpas. 

Culpa-se o vizinho, o cão, o gato, os bombeiros, mas escapa-nos a responsabilidade individual. E nem é das limpezas à volta da casa, da empresa, da mata, que se trata. 

Há cada vez menos gente a inscrever-se em bombeiro, a tornar-se sócio das Associações de Bombeiros. 

Poucos são os que exigem a quem governa, localmente ou centralmente, que gaste mais do nosso dinheiro em protecção civil, em prevenção, ou a exigir a profissionalização dos bombeiros. Quantos criticam o facto de muitos orçamentos municipais terem mais dinheiro atribuído a clubes de futebol, que o gastam para pagar a jogadores, do que para prevenção e combate a incêndios florestais? 

Vejo poucas pessoas a não gostarem do facto de se gastarem milhares e milhares de euros em festas de entrada gratuitas, “Tonys Carreiras”, feiras e mercados, enquanto para evitar o que todos os anos sabemos pode acontecer, é gasto muito menos. 

Gasta-se em segurança pública para proteger claques de futebol ou para celebrar “aparições divinas” na Cova da Iria, que nem servem pelos vistos para granjear as boas graças dos “todos poderosos”. 

Vejo poucas pessoas a insurgirem-se com o facto de se darem apoios pornográficos a empresas privadas, alguns ilegais, em vez de se criarem sapadores florestais, de se darem apoios para plantar espécies adequadas ao nosso clima e solo. 

Quase todos validamos estas escolhas, legitimas diga-se, ao votar em quem sistematicamente as prefere e propõe e depois achamos que a responsabilidade não é nossa. Mas é! Quando passarmos a ser mais exigentes com a forma como gastamos o nosso dinheiro as coisas seguramente melhorarão. Quando deixarmos de desculpa corrupções, aldrabices, “Sócrates” e “Isaltinos”, as coisas vão melhorar. 

Um autarca que, antes desta tragédia, propusesse cortar no dinheiro do futebol, por exemplo, e dá-lo aos Bombeiros, seguramente que seria alvo de fúria pública. Por essa razão é que as prioridades são, o que são. Porque nós, enquanto sociedade assim o desejamos. Não culpem, portanto, só o autarca ou o governo, culpem o vosso querido e precioso umbigo.

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