Alquimias

Talvez para não destoar da temática, a gestão da Feira Medieval de Canas de Senhorim tem vindo a registar verdadeiras anacronismos que ajudam a transformar aquele que já foi um certame de eleição, vanguardista e cuidado, em algo que não destoa da verdadeira praga de "feiras e viagens medievais" em tudo o que é canto desta nossa Lusitânia.

Será provavelmente por isso que podemos assistir em Canas de Senhorim à venda completamente descontrolada e sem qualquer tipo de sanção ou admoestação de bugigangas de plástico, com e sem símbolos da Hello Kitty, cerveja em copos de plástico, e toda uma panóplia de coisas que não existiam na época (musica pimba televisionada incluída) medieval que supostamente o mercado evoca.

É também extraordinário que ao longo de tantos anos ainda se privilegie a contratação em massa de artistas achadiços com uma quase total ausência de gente de cá. É igualmente lamentável que, passados todos estes anos, a Feira não sirva (propositadamente) como polo agregado de freguesias e povoações limítrofes, quase totalmente ausentes de representação aqui. Talvez a tentação de tingir o alforge de serapilheira de tons de metileno possa servir de justificação.

Ainda assim a Feira, com todos estes óbices, consegue atrair milhares de pessoas e é provavelmente o evento de todo o concelho com mais participantes e tem capacidade para atrair ainda mais. A construção e disponibilização de casas de banho (coisa básica que só em 2014 viu luz) mas igualmente o crescimento para a Quelha da Igreja (provavelmente o o espaço mais medieval que temos), para a Rua da Igreja e para o Casal (bairro mais antigo de Canas), aos poucos, dando mais espaço para circular, serviriam esses propósitos. Basta deslocar as barreiras (surgidas igualmente em 2014 e que complementam a que habitualmente os Escuteiros construíam junto aos Bombeiros) que delimitam o espaço da Feira. Basta construir sanitários públicos que serviriam para além da Feira para o Carnaval, e outras iniciativas realizadas naquele que é um dos espaços mais nobres e bonitos de Canas e que o tornam ideal para estes eventos.  

Há igualmente uma outra questão que não consigo compreender como não é aceite por quem se julga dono e senhor do certame (algo que igualmente propus enquanto me deixaram - e que parou quando apresentei contas que provavam que se conseguiam trazer os mesmíssimos artistas gastando quase menos 50% do dinheiro):
- Como é que num concelho que gosta de se afirmar como um produtor de vinho de excelência não estão presentes produtores de vinho? Como é que um município que gasta centenas de milhares de euros naquilo que diz ser a promoção do "néctar" não aproveita a deslocação destas milhares de pessoas para igualmente promover os produtores locais e a Região? Além do mais isto poderia servir igualmente para ajudar a promover convenientemente a Feira, Canas e a Região e seguramente trazer algum rigor acrescido ao certame. Como aliás havia nos primeiros anos. 

Talvez porque a Feira sirva também para fazer umas espécie de alquimia financeira haja coisas que nunca vão mudar. 

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