Nos últimos anos, anos pré-troika incluídos, fomos bombardeados com
notícias de bancos com problemas e da necessidade imperiosa de os
“salvar” pois, caso não o fizéssemos, corríamos um sério “risco
sistémico”, um tremendo “risco de contágio”, a toda a economia, que
seria destruída. Esse discurso e essas políticas levaram a que fossem
“injectados” – assim tipo fármaco milagroso – mais de quinze mil milhões
de euros (ou talvez bem mais), nessas empresas criminosamente geridas,
para proveito de uns quantos privilegiados. Isto sem que ninguém até
hoje, quase uma década depois do início, tenha sido verdadeiramente
condenado e pago por este regabofe. São mais de mil quinhentos euros por
cada português transferidos. Dinheiro pago que permitiu estilos de vida
imorais, comprar decisões políticas, etc… Dinheiro que serviu para
branquear má gestão e “salvar” empresas e acionistas que ainda enchem a
boca e páginas de jornais, com o discurso liberal hipócrita, de menos
intervenção estatal.
Dou comigo a pensar que é uma pena que os decisores não enveredem, no
caso dos incêndios e da desertificação do interior do país, por o
mesmíssimo discurso do “risco sistémico”. Que bom seria para a economia,
a coesão territorial, a coesão nacional, os radicalismos políticos, a
desertificação, etc., que as mesmas razões fossem defendidas e a
intervenção do Estado fosse similar à que foi no caso da banca.
Que bom que era que o que tivesse ardido fossem herdades de Ricardo
Salgado, de Granadeiro ou Zeinal Bava, de Rendeiro ou de Horácio Roque.
Que bom que era que tivesse sido a herdade da Coelha ou a de Dias
Loureiro. Seriam os mesmíssimos 520 mil hectares de território nacional –
deixemos os mortos de fora que são coisas demasiado sérias para
fazermos aqui trocadilhos irónicos – e seríamos seguramente todos muito
mais generosos para recuperar essas áreas e essas economias. É o passado
recente que o comprova. Assim, como não foram, a coisa será bem mais
modesta. E como lembra a nossa maior “popstar” – o que nunca fez no caso
da banca – neste caso temos de nos preocupar com o défice.