Faz pouco mais de duas semanas que, em mais um episódio de manifesto ódio contra a natureza, a população da Lapa do Lobo acordou sobressaltada com o corte de 21 (vinte e uma) árvores que ladeavam a desclassificada Estrada Nacional 234, que corta a localidade a meio.
À indignação pronta de muitos, potenciada também por um lamentável acidente com um funcionário da empresa contratada pelo autarca local, o Presidente da Câmara respondeu com um ofício, sem data, sem destinatário, sem assinatura, onde se pode ver ensaiada uma desculpa esfarrapada de que o corte foi um "dilema" de quem tem "o dever de decidir e agir, não bastando opiniões", de quem vive numa "prisão de responsabilidade", mas que mais não serviu para, velada e velhacamente, assumir a responsabilidade do abate.
No caso das árvores da Lapa e da sua "senescência", a sua "doença", estranhamente, afectou todas por igual, mesmo quando as fotografias prontamente registadas provam a saúde de pelo menos algumas das árvores. Houvesse real interesse em preservar estes espécimes ou talvez um desejo em as cortar e nunca teriam sido feito o que se fez todas as árvores, mas somente às que pudessem estar doentes.
A justificação surgida, arvorada nos grilhões de uma suposta responsabilidade que o presidente da Câmara diz ter, que o "obriga" a mandar cortar árvores ou sujeitar-se à espada da Justiça, supostamente implacável para com os autarcas que não tratam, lenientemente ou não, da segurança das "suas" populações, não passa de um farrapo. Se assim fosse, houvesse real preocupação com a segurança e qualidade de vida das populações porque razão estranha a acção só se dirige contra árvores em espaço publico?
E, se nos estendermos ainda mais no tempo, onde está a responsabilidade e a segurança do concelho e das suas populações quando temos a Ribeira da Pantanha, a "fluir" no estado que é do conhecimento de todos, com as implicações que já temos e outras que surgirão no futuro?
O que temos é mesmo uma "senescência" argumentativa, um sacudir a água do capote e uma falta efectiva de visão, de prioridades, dando sempre primazia ao imediato e não lobrigando que vivemos num ecossistema que cada vez mais temos de proteger por forma a não sermos, também nós, dizimados sem apelo nem agravo, pandemicamente ou não. O que temos mesmo é um "fino fio" de responsabilidade técnica, que parte sempre face à vontade despótica de quem manda.