Archive for julho 2021

“A Realidade (Agora a Cores)”

Alguns saberão que sou militante do Partido Socialista. Sou-o há relativamente pouco tempo e porque acredito que a democracia é a melhor solução governativa de que dispomos para tratar dos interesses comuns, pese embora todos os defeitos que qualquer sistema humano, enferma. Tal não me impede, antes pelo contrário, de criticar decisões políticas tomadas no seio deste partido, quer a nível nacional quer a nível local. A democracia é isso mesmo e, só dessa forma, promovendo críticas, podemos almejar melhores decisões.

A democracia interna do PS tem sido um verbo de encher, com responsáveis locais a serem constantemente desautorizados. Aqui no Concelho em 2017 a Concelhia de Nelas deliberou que Borges da Silva não seria candidato e a Nacional marimbou-se na democracia. Em 2021 a Concelhia de Nelas deliberou que o candidato não seria Borges da Silva e a Nacional voltou a marimbar-se. Os que em 2017 apoiaram Borges da Silva, quase todos, agora estão contra ele. Nada de extraordinário ou de surpreendente. Os que agora sofrem com o autoritarismo teocrático do PS, são os que no passado 2017 o fomentaram e beneficiaram dele (quase todos e só com uma excepção)

Mas, ao contrário de 2017, em 2021, os que foram desautorizados pela Distrital e Nacional optaram por se fechar nos seus casulos em silêncio, à espera sabe-se lá de quê. Em 2021, com autárquicas a decorrer, com escolha de candidatos à CM, AM e JF’s a serem feitas apesar deles, continuam, serodiamente, a fingir que tomam decisões. A coisa é tão engraçada que, em Canas de Senhorim, o candidato do PS é um ex-presidente de Junta pelo MRCCS (aquele movimento que disse cobras e lagartos do partido e ameaçou física e verbalmente os seus militantes) e, da concelhia, nem um comunicado a informar-nos se a escolha é deles ou não. 

Ao longo dos últimos meses, tentei, por escrito (e-mail e SMS) que o PS de Nelas reunisse uma assembleia de militantes para analisar a situação política, possibilitando a todos os seus militantes que pudessem expressar-se, dizer de sua justiça, propor acções concretas. Em todas elas tive como resposta o silêncio. Há três dias ligou-me o Presidente da Concelhia a informar que o PS iria fazer um comunicado, mas veiculado com um texto pessoal e não em nome do Partido. 

Ao que parece o PS em Nelas não pode, não quer, não tem coragem para falar de Canas de Senhorim, do resto das freguesias e do Concelho. Achará normal que se definam listas autárquicas sem uma palavra da concelhia e, caso seja esse o caso, que os concidadãos não merecem comentário e/ou esclarecimentos? Também deve considerar do domínio da normalidade que em 2021, com uma economia a funcionar digitalmente há 2 anos, ao mesmo tempo que não se coibe de ir presencialmente apoiar o camarada (dr.?) António Costa na sua recandidatura a secretário-geral, com autárquicas no calendário, não se faça uma reunião de militantes, nem que seja parcialmente de forma digital. O silêncio orquestrado é do mesmo tipo do utilizado no passado na CM, perante todos os atropelos que por lá se viviam. Não me espanta que o actor dos silêncios o repita. Já que os que propalam a necessidade de “mudança” interna o sigam é que é engraçado. Mas, na verdade, o silêncio, a abstenção e não comparência, parecem ser um recurso muito apreciado de momento. 

Quanto ao “comunicado” unipessoal é hilário que nele se refira que havia um “candidato natural do PS na Freguesia de Canas” (e eu a julgar que estas coisas deviam ser decididas democraticamente), mas não seja esse “candidato natural” a fazer o “comunicado”. É igualmente interessante de ver que o “candidato natural” “na freguesia onde os Socialistas mais foram desconsiderados, desclassificados e espartilhados, e por mais de duas décadas” (calculo que se refiram ao José Lima, mas peço desculpa se estou enganado), tenha sido quem, tendo em conta estas verdade insofismáveis, se aliou ao MRCCS depois das eleições de 2017 para pertencer ao executivo da Junta, optando por não o fazer com o Coração do Dão. Será que na altura o “candidato natural” e todo a Concelhia não sabiam o que agora é afirmado? É que foram “mais de duas décadas”. 

Há quatro anos já era mais que sabido o que era este presidente de Câmara, já tinham passado 4 anos desde 2013 e eram por demais evidentes as “capacidades” e incapacidades que demonstrava enquanto presidente, que foram sonoramente propaladas por dois vereadores do PS. Já era sobejamente conhecida a relação entre o presidente e o MRCCS e para que lado penderia a sua simpatia. Fazerem-se agora surpreendidos, até porque o “candidato natural” se aliou ao MRCCS, e ali ficou até o MRCCS/presidente da CM quiseram, é só tentar branquear o que se passou ou tentar viver numa realidade a preto e branco, totalmente alternativa. Há quatro anos a estratégia de “espartilhar” o PS não era uma coisa tão má vista como o é agora por grande parte destes actores. Mas ainda bem que evoluímos, que há preocupação com o programa que se quer cumprir, coisa que no passado recente não interessava para nada. A vida faz-se de evoluções e ainda bem que é no sentido certo. Sejam bem-vindos. 

Escrevo este texto porque, pese embora os contactos feitos, nunca me foi dada a oportunidade de me expressar em primeira instância no sítio certo. No fundo tudo isto me entristece, pois é da definição do futuro comum de todos que se trata e o futuro, agora decidido, não será seguramente nada famoso, mas, por outro lado, também isto me diverte. Há um sentimento egoísta miudinho que estica os músculos faciais com todo este panorama provinciano. Peço desculpa por isso. 

Termino reafirmando que a razão que levaram parte dos membros da Comissão Política Concelhia a incompatibilizarem-se com Borges da Silva, a nomeação de Luís Pinheiro para assessor do presidente, é mesquinha e insignificante, quando comparado com tudo o resto que eles conhecem e que, isso sim, devia levar qualquer democrata e cidadão honesto a denunciar veemente e a lutar para que acabasse. Penso que sou insuspeito para defender Luís Pinheiro, mas, para mim, é evidente que a CM estava melhor com LP com assessor do que sem ele, tal é a pobreza de tudo o que resta. Obviamente que não é situação desejável, mas mais grave é termos uma unipessoal SA a gerir a CM. Resta-nos esperar que a luz se espalhe sobre todos e a (nossa) realidade possa ser agora a cores.

:)

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