Archive for outubro 2021

Decência Democrática

As autárquicas foram no transacto 26 de Setembro e, na União dos Concelhos de Canas de Senhorim e Nelas, muitos foram os que ficaram surpreendidos com a derrota da candidatura que ostentava na lapela o símbolo do Partido Socialista. O maior surpreendido deve ter sido o “socialista”, para o qual a democracia é um jogo que se joga em 12 horas de 4 em 4 anos. Ele que, meses antes, já andava a cantar vitória em diversos fóruns. “Perder eleições é a segunda melhor coisa em democracia, porque é sinal que se concorre”, gracejava na hora da derrota o indivíduo que não respeitava decisões da Câmara a que presidia, como se não precisássemos de respeitar e praticar a democracia todos os dias, ouvindo as opiniões dos cidadãos que a isso estão disponíveis. Já perto das eleições era notório o seu desespero e, a dimensão da sua derrota, sua e de quem insistiu agora e há 4 anos em apoiá-lo, não deixa margem para dúvidas. 

A dimensão do desastre do que foram os seus mandatos só agora será conhecido (se alguma vez o será em toda a sua plenitude), que a propaganda não é a realidade. Já em 2017, após 4 anos de exercício presidencial e antes da reeleição, eram mais do que notórias as evidências de uma gestão atabalhoada, os tiques ditatoriais e a má educação intolerável, que deveria levar a qualquer cidadão, com ou sem responsabilidades, a descartar o apoio a tal personagem. 

É especialmente elucidativa da forma de governo que se instituiu em Nelas o que aconteceu logo após às eleições e à derrota do PS, uma governação que aparentemente e  nos bastidores, parecia proceder à transferência desbragada de influência, entre o público e o privado, muitas vezes alegadamente através de um determinado escritório de advogados.

No dia 27, um dia depois, uma advogada, em nome de uma empresa para a qual aparentemente trabalha(va), fez reunir 33 trabalhadores da Covercar, para lhe anunciar que estavam despedidos. Um dia depois das eleições. Certamente que foi uma coincidência e não assistimos a uma deliberada mistura de interesses que deturpa e entorse a democracia. Situação semelhante acontece agora com outra empresa, esta bem mais importante e que está a ser afectada pela crise dos semicondutores, e com a qual o tal escritório já teve(?) uma relação profissional muito próxima, onde agora estão a despedir colaboradores, alguns com 20 anos de dedicação. Este timming, logo após o acto eleitoral, será certamente uma mera coincidência, pensamos todos. Não é?

Este tipo de situações deviam fazer-nos pensar na forma como toleramos as formas de gerir a coisa pública e o risco que pode constituir colocar o que é de todos ao serviço de poucos. Estas coincidências deveriam fazer disparar alarmes e acções para fiscalizar ilegalidades claras que por aí se comentem, que minam o regime e a democracia e que deveriam merecer fiscalização e sanção irrepreensível. Ou colocar uma Câmara a comprar a massa falida de uma empresa do qual o presidente é credor, ou intervir, enquanto presidente, em procedimento administrativo que potencia ganhos imobiliários de 50 mil euros em apenas 4 horas, não serão motivo suficiente?

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Surpresa? ZERO

Hoje no Observador

Infelizmente zero surpresa. Felizmente houve a penalização, para já, devida. 




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A Força que nos Une? O Povo é quem mais Ordena.

Recentemente grandes cartazes garantiam-nos que a força que nos unia, a nós meros cidadãos era a “confiança” e a “esperança”, adjectivos que, para mim (e pelos vistos para a maioria) só faziam sentido para descrever a união dos integrantes das referidas listas. Maioritariamente só os candidatos teriam confiança e esperança em serem eleitos. Olhando para muitas das acções de campanha, nomeadamente para o “grande comício de encerramento” que o PS(?) deu na Escola de Nelas, até é provável que nem neste universo a confiança e a esperança fossem sentimentos que se manifestassem, pois nem estes se deslocaram ao referido evento.

Zeca Afonso postulava que “o Povo é quem mais ordena” e, o povo, ordenou o que se impunha, contra os ditames de meia dúzia de avocadores, que devem achar que a democracia (seja ela a interna ou a externa aos partidos) é um mero artificio para usarem a seu bel-prazer – As listas do OS foram impecavelmente dizimadas no processo eleitoral.

Borges da Silva, mal tomou posse como presidente da Câmara, demonstrou ao que vinha e manifestou que os valores da democracia, legalidade, educação, eram meros artifícios para atirar à cara de outros pois, a ele, imbuído das vestes de presidente, tudo lhe era permitido, ultrapassando todos os limites. Com ele, pouco tempo bastou para manifestar que as regras (legais, de educação, democráticas, etc.) eram coisas importantes, mas só para aplicar aos outros cidadãos, eleitos ou não.


Para quem com ele foi eleito em 2013, todos os seis vereadores, tudo isto foi clarinho com água, tais as tropelias, má educação, prepotência, manifestada dentro e fora das reuniões de Câmara. Não foi por acaso que dos seis vereadores eleitos (3 do PS, 2 do PSD e 1 do CDS) só uma se manteve, impávida e serena, ao lado dele. Lá saberá quais são os valores e as suas prioridades. Todos os outros, sem excepção, lhe retiraram as competências e o acusaram publicamente de não cumprir os mínimos da decência, tentando que a dignidade e a legalidade voltassem a um órgão que sendo o mais representativo do Concelho se impõe que seja digno. Naturalmente, fruto de um desinteresse geral dos cidadãos no dia-a-dia da política, foi mais ou menos fácil para Borges da Silva vitimizar-se e enganar (novamente) o partido e os cidadãos. 

O PS, logo em 2017, manifestou que Borges da Silva não devia ser candidato. Logo em 2017 foram feitas pelo menos duas reuniões de militantes onde, na presença de Borges da Silva, foi explicado a todos os militantes que compareceram (e numa reunião o então presidente até levou uma claque intimidatória de não militantes), bem mais de 50, as razões porque não devia o partido recandidatar Borges da Silva. A maioria da Comissão Política Concelhia deliberou (em voto secreto em urna) não recandidatar o então presidente. Uma parte do partido, legitimamente, optou por ignorar as razões cabalmente explicadas. O processo foi avocado pela distrital e nacional e Borges da Silva foi reeleito. 

Releeito que foi, pouco tempo bastou para, mais uma vez, Borges da Silva demonstrar do que era feito e, os que lhe tinham dado o benefício da dúvida, untados por promessas pessoais e outras, rapidamente viram que tinham sido enganados. 

Não é, portanto, propriamente surpreendente que nesta autárquicas o PS tenha perdido as eleições. Mais uma vez a concelhia do PS, constituída por outros militantes, disse que não o queria e mais uma vez foi desautorizada pela distrital e nacional. Mais uma vez Borges da Silva mostrou toda a sua prepotência e incapacidade de ser humilde e de se colocar, genuinamente, ao lado dos que tem de servir. Surpreendentemente foi, para mim, a expressão da sua derrota. Uma resposta que o povo deu a quem durante oito anos demonstrou que julga que não é o povo que ordena, mas ele próprio. Pois teve a única resposta que tal atitude merece. Resposta que foi endossada a todos os que escolheram ficar ao lado de um poder podre e mal-educado. 

É geralmente atribuída a Lincoln, embora isso pouco interesse, a frase (em inglês naturalmente): “podeis enganar toda a gente durante pouco tempo; podeis enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente”. Para Borges da Silva a balança do engano, seu único modo de agir, desequilibrou-se ao fim de oito anos. Felizmente para o Concelho e para o seu povo agora na Câmara está uma nova equipa, com um presidente bem-educado, desprendido, sem vícios e ligações obscuras, características que podemos atribuir a outros elementos. O mesmo será válido para a maioria das juntas de freguesia, com Canas de Senhorim à cabeça, onde foi possível enterrar um anacronismo hipócrita que, pegando num sentimento legítimo e de amor ingénuo, o transformou num instrumento de poder pessoal que fez definhar aquela que foi durante décadas a localidade mais importante e pujante do Concelho. 

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