Archive for 2022

Que Grande Seca

Estamos em seca e, acabada a campanha eleitoral e as eleições, os telejornais dedicam-se a informar-nos da gravidade da situação. Há pouca água e, caso não chova entretanto e com persistência, teremos um período estival complicado.

Na região tem sido notícia os níveis da Barragem do Vilar, mais a norte, com níveis anormalmente baixos. Também todos deverão recordar o que aconteceu em 2017 na Barragem de Fagilde, reservatório onde é captada a água para consumo humano e industrial para os concelhos de Viseu, Mangualde, Nelas e Penalva do Castelo, onde foi montada uma operação com recurso a camiões cisterna, maioritariamente de bombeiros, para tentar repor os níveis mínimos de água na albufeira (?), enquanto o nosso astro rei se deliciava a faze-la evaporar.

Começam a surgir apelos das mais diversas entidades à poupança e uso racional da água, coisa que deveríamos fazer sempre.

Nos últimos anos foi forte o investimento feito pelo Estado, maioritariamente com recurso a fundos comunitários, no chamado “círculo urbano da água”, para dotar as comunidades de infra-estruturas que melhor tratem e armazenem este bem essencial, tão presente e tão escasso, tão essencial e tão desperdiçado.

No pedaço de território onde habito – a União dos Concelhos de Canas de Senhorim e Nelas, desde 2017, foram aprovadas pelo POSEUR/Portugal2020, investimentos de mais de 8 milhões de euros que corresponderam a um financiamento comunitário de mais de 6,6 milhões de euros. Investimentos que visavam a construção de várias ETAR, redes de abastecimento e drenagem, ou construção de depósitos. No meio destas obras aprovadas está a emblemática (apresentada até como o “rolls royce” das ETAR pelo anterior presidente de Câmara) ETAR Nelas III, alvo de um investimento de mais de 3 milhões de euros e com um projecto acessório de quase 1.4 milhões de euros para “reutilização de águas residuais tratadas”. 4,4 milhões de euros dos nossos impostos, 856 mil euros dos quais componente nacional assegurada pela Câmara da União dos Concelhos de Canas de Senhorim e Nelas, para tratar e reforçar a disponibilidade de água.

Também a triste sina da Ribeira da Pantanha, que ao longo de mais de uma década foi transformada que foi em canal de esgoto sem adequado tratamento, desaguando no mondego um líquido cheio de químicos e espuma, provocando danos ambientais inqualificáveis naquele curso de água, é conhecida de quase todos. O princípio do utilizador/poluidor - pagador só serve por estes dias aparentemente para quem utiliza auto-estradas.

Com a construção da ETAR Nelas III, financiada a 85%, supostamente todo este drama ambiental, que se agrava quando a disponibilidade de água a montante, como é o caso actual, é menor, deveria terminar. Um “rolls royce” caro e “eficiente” deveria tratar cabalmente todos os esgotos, industriais e urbanos e rejeitar água no meio hídrico em perfeitas condições, já não na Ribeira da Pantanha, afluente do Mondego, mas na Ribeira de Travássos/Beijós, afluente do Dão. Deveria só que não.

São recorrentes os relatos de uma ribeira cheia de espuma e ainda neste fim-de-semana, foi observável mais um episódio de poluição na localidade de Beijós.

Veja-se o vídeo gravado no transacto fim-de-semana e, ignorante ou não destas questões, tirem-se as conclusões que, face ao que é visível (e é recorrente) não podem ser muitas.

Como é possível tolerarmos décadas deste desrespeito ambiental? Como é possível enquanto sociedade afectarmos milhões de euros para “resolver” problemas e, quando os resultados são os visíveis, não haver responsabilização por quem decide/projecta/executa/opera, projectos que não servem para resolver os problemas deviam resolver? Ou essa parte é chata, uma grande seca, e não vale a pena chatearmo-nos enquanto sociedade? Será que podemos tolerar amadorismos que para poupar uns tostões nos trazem estas consequências?

Sobre | Comentários

Representatividade

Dia 30 de Janeiro vamos a votos e é bom que todos os que possam, vão votar. Em 2019, nas últimas legislativas, dos 348 mil inscritos no círculo eleitoral de Viseu apenas 51% dos eleitores (177 mil) se deu a esse “trabalho”. A nível nacional, excluindo a emigração, fomos apenas 54%. Bem sei que os cadernos eleitorais enfermam de problemas, mas, ainda assim, a participação eleitoral é ridícula e não devia ser, a bem da democracia e da sua defesa. 

Muitas razões haverá para este cada vez maior alheamento e não faltam, imediatamente antes e após as eleições, proclamações políticas a manifestar preocupação com ele. Normalmente são efémeras e só ressuscitam na campanha eleitoral vindoura. Vamos, paulatinamente, escavando o fosso que afasta eleitores e eleitos e lançando à terra as sementes de populismos e extremismos. 

Nas últimas legislativas Viseu perdeu um deputado, resultado da perda de população, que é, também, resultado do centralismo. Votamos, nós e grande parte do país, num círculo vicioso que, desta forma não será vencido nunca. No futuro o interior terá cada vez menos população (a própria Ministra da Coesão admitiu em entrevista ao Público que “há partes de Portugal onde não se vai “recuperar população” e economia) e, isso retirará representatividade e diversidade política a grande parte do território e às pessoas que ai vivem. Esta cada vez maior possibilidade de representação trará, concomitantemente, o afastamento de mais eleitores das mesas de voto. 

Haverá várias formas de tentar mitigar este problema, mas, na verdade, são poucas as propostas e os esforços para o atingir. 

As autarquias têm há muito um instrumento que tenta atenuar os desequilíbrios territoriais a nível financeiro – o Fundo de Equilíbrio Financeiro (FEF), havendo municípios que contribuem para outros receberem. Não fará sentido aplicar ao sistema eleitoral, nas legislativas ao menos, um mecanismo semelhante de compensação, para que não haja parcelas do território que quase não elegem ninguém (Portalegre elege dois deputados, Guarda, Beja e Évora apenas três) enquanto Porto e Lisboa elegem 40% dos deputados?). 

Não fará sentido equacionar a possibilidade de haver um círculo nacional que agregue todos os votos que nos vinte e dois círculos distritais não elegeram qualquer deputado, numa primeira ronda? Um círculo que valha 10 ou 20% (?) dos eleitos e que diminua a enorme possibilidade de um voto num destes círculos seja simplesmente deitado ao lixo e, portanto, a vontade desse cidadão totalmente desconsiderada? 

Se estivermos realmente preocupados com a democracia, com a representatividade, no país da “disciplina de voto” para quase tudo, alguma coisa terá de ser feita. Isto se quisermos aumentar a participação política, nas eleições e fora delas, e, democraticamente, dar vós e palco a mais e mais população. 



Em Viseu, por exemplo, nas últimas legislativas, foram 41.746 os votos que foram para o “lixo”, 25% dos depositados em urna, 33% dos que serviram para eleger deputados. A estes podemos ainda somar 7.695 votos brancos ou nulos. São praticamente 50 mil votos que, expressos, não contam para nada. É possível ter mais respeito pela vontade de todos e pela democracia. É possível valorizar a actividade política, a sua seriedade, educar para a cidadania, cortar nos paliativos futebolisticos (e outros) que deliberadamente (?) nos entontecem, no fundo tratar de assegurar um sociedade madura e o nosso futuro.

Comentários
Com tecnologia do Blogger.

Procura

Swedish Greys - a WordPress theme from Nordic Themepark. Converted by LiteThemes.com.