O “Milagre” da Propaganda

Reza a lenda, para quem quer acreditar nelas, que Isabel de Aragão, consorte de Dom Dinis, era muito atreita a ajudar os carenciados (sendo que El Rei não apreciava sobremaneira essas misturas). Vai um dia, enquanto levava alimentos debaixo do seu manto, surpreendida pelo monarca e questionada por este, mentiu dizendo que levava rosas. Nessa altura, muito dada a milagres e a animais eloquentes, o pão que trazia terá sido transformado em rosas. A história é omissa relativamente ao que aconteceu às rosas e se terão matado a fome a alguém. 

Hoje em dia, tempos menos propensos a este tipo de fantasias há, ainda assim, quem continue a tentar vender “milagres” aos incautos através de histórias mirabolantes. Isto assume especial relevância em alguns políticos que, em época de eleições, tudo prometem para alcançar posição para depois tratar da sua vidinha. Veja-se o seguinte caso, mais um, no imenso role desfolhado pelo presidente da Câmara Municipal de Nelas, uma “rosa” assim milagrosamente transformada. 

Faltavam alguns dias para as eleições de 2017 e a personagem com claras tendências para a mito e megalomania, assegurava, através de notícia no site da Câmara Municipal, logo replicado pelo pasquim local, que a zona da antiga CPFE (Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos) seria comprada pela Câmara e até já havia um protocolo com um empresário da metalomecânica para se lá instalar. 

Como se pode ver, pelo extrato do protocolo, a empresa, oriunda do Carregal do Sal, ia-se instalar nos Fornos Eléctricos mas, caso isso não fosse possível, instalar-se-ia na ZI da Ribeirinha também em Canas de Senhorim. Eram “favas contadas” para o concelho de Nelas. Quem não achou piada (e bem) foi o edil do Carregal do Sal que não apreciou por aí além as jogadas rasteirinhas do nosso pobre presidente. 

Imagem de Centro Notícias
Estamos em Junho de 2019, passaram dois anos e da empresa nem sinal. Seguiu o mesmo caminho da também carregalense DS Smith que também em Maio de 2017, enganando eleitores e empresários, serviram de propaganda milagrosas - “são empresas senhores, são postos de trabalho”. Só que afinal era tudo léria e nem empresas nem postos de trabalho.

Podia aqui acrescentar uma lista magnânime de promessas da treta que nunca sairam do éter propagandístico mas fiquemos pela promessa estonteante de mais de 50 milhões de euros de investimento nas zonas industriais que foi feita em 2016 e que, até ao momento, viu uma execução muito próxima de zero por cento (ou não será mesmo zero?) 

Enquanto por Nelas a propaganda faz caminho, engrossa, brilha, é areada e/ou substituída por outra recauchutada e mais vistosa, no Carregal do Sal, por exemplo, vemos os parques industriais a serem melhorados, expandidos, vemos investimentos avultados na agricultura. Por aqui “muita parra e pouca uva” e por lá, apostam no bago e deixam-se de folhas para tapar inacções inconsequentes e pudibundas que podem atrair investigações. A tal empresa, que vinha para os Fornos, inaugurou recentemente as suas instalações em Oliveirinha. Já viram a diferença?

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